Ainda nem sequer tinha acabado de chover quando foi declarado o segredo.
- Ninguém pode saber – tocou-me no braço, olhou-me na cara e levantou-se da cadeira diferente todos os dias para se levar para a liberdade da rua. Não queria enganar ninguém, só aqueles que lhe apetecia por um motivo ou por outro, os mesmos de sempre. Andava invariavelmente sozinha nas ruas da pálida solidão mas disfarçava o que queria mostrar como ninguém.
Tinha os olhos de pérolas negras assombrados pelo escuro de um tom delicado atenuado pelo desencanto e as bochechas morenas como que manchadas de algodão doce. Tinha, junto aos olhos, marcas de lágrimas chovidas com o ardor da tempestade. Eram mesmo assim os olhos dela, carregados de nuvens cinzento promíscuo prontas a sacudirem de si o fruto do descontentamento ao mais pequeno aviso do palpitante coração. Desfrutava ainda de uma cara lenta de olhar e nariz transparente, cabelos simpáticos e rebeldes deliberadamente pousados até aos delicados ombros.
O corpo deslizante suavizava pelos sítios espontâneos em toda a largura dos amenos lábios finos e dormentes. Deixava sempre a sua marca em pequenas pegadas de mágoa de luta impetuosa para que ninguém as apagasse de si. Então, sentava-se na cadeira que lhe era escolhida e fechava-se outra vez e o sorriso com o olhar pendente para pensar em ser livre outra vez. Vivia como acordava, igual a si mesma e foi assim mesmo que eu a conheci. Tudo nela era tristeza menos aquilo que eu não via até perceber finalmente. Cozinhado com os sentimentos salteados, o espírito contorcia-se de feridas enquanto o corpo, todo ele, precisava de abraços eternos pelo máximo tempo possível.
A Alma de nuvem gritava dos céus rosados em interpelantes e agitadas lágrimas de silêncio de ter caído, movendo as montanhas e os seus olhos a serem o que se tornariam, sendo que nunca mais foram os mesmos dado que o mundo não arranjou melhor destino do que a fazer sofrer.
E mesmo quando não o fazia, doía e ela dizia como se fosse sempre igual, também nos momentos em que o era. Talvez só as caras fossem diferentes e as palavras sempre iguais. Mas era claro que, do vento, apenas tinha sentido o furacão de precipício e o tornado de paixão que invariavelmente eram como sentia.
Então calou o coração na sua torre de descontentamento onde se envolveu com a solidão enclausurada. Fazendo-o com timidez ao início, até a ânsia de se maltratar se manifestar demasiadas vezes até aquilo que tinha sido um desabafo da angústia que a agoniava tornava-se, tempos depois, em mais um hábito pernicioso a que sua alma se consentia.
Sonhava rebelde. Fechava-se na noite menos escura que encontrasse para se deitar de espírito tão vazio de cheio que estava e adormecia contorcida de dor.
Só que a dor que lhe doía desde sempre, doía calada sem se saber fazer sofrer. Murmurava ela cansada na calada da noite, doendo como mágoa que dói sem desejo, sem força sobre o dorido da tentação.
De espírito longínquo, não quis mais fazer-se existir. Procurou eclipsar-se por entre a lua, no Inverno das emoções perdidas.
Com gelo veio a quietude.
Lembrou-se que nunca teve muita coragem nem nunca foi uma mera heroína
Ela movia-se fechada, em frente, para todos os lugares possíveis sem nunca abraçar um lar para si.
Dormia inquieta e acordava irrequieta. Ficava inquieta, irrequieta no seu sonhar, por vezes acordada.
Saía sempre como chegava, moribunda nas suas certezas.
Nunca tinha dito adeus nem nunca tinha sido vista ir embora.
Era ela quem tinha sonhado em tempos, sem jamais viver nada real, como os sonhos que dormia.
E de repente sim, ela finalmente entendia as dúvidas que tomavam conta de si. Não parou de sonhar. Jamais foi ela mesma, nem foi nada, nem ninguém sem ser quando queria.
- Ninguém pode saber – tocou-me no braço, olhou-me na cara e levantou-se da cadeira diferente todos os dias para se levar para a liberdade da rua. Não queria enganar ninguém, só aqueles que lhe apetecia por um motivo ou por outro, os mesmos de sempre. Andava invariavelmente sozinha nas ruas da pálida solidão mas disfarçava o que queria mostrar como ninguém.
Tinha os olhos de pérolas negras assombrados pelo escuro de um tom delicado atenuado pelo desencanto e as bochechas morenas como que manchadas de algodão doce. Tinha, junto aos olhos, marcas de lágrimas chovidas com o ardor da tempestade. Eram mesmo assim os olhos dela, carregados de nuvens cinzento promíscuo prontas a sacudirem de si o fruto do descontentamento ao mais pequeno aviso do palpitante coração. Desfrutava ainda de uma cara lenta de olhar e nariz transparente, cabelos simpáticos e rebeldes deliberadamente pousados até aos delicados ombros.
O corpo deslizante suavizava pelos sítios espontâneos em toda a largura dos amenos lábios finos e dormentes. Deixava sempre a sua marca em pequenas pegadas de mágoa de luta impetuosa para que ninguém as apagasse de si. Então, sentava-se na cadeira que lhe era escolhida e fechava-se outra vez e o sorriso com o olhar pendente para pensar em ser livre outra vez. Vivia como acordava, igual a si mesma e foi assim mesmo que eu a conheci. Tudo nela era tristeza menos aquilo que eu não via até perceber finalmente. Cozinhado com os sentimentos salteados, o espírito contorcia-se de feridas enquanto o corpo, todo ele, precisava de abraços eternos pelo máximo tempo possível.
A Alma de nuvem gritava dos céus rosados em interpelantes e agitadas lágrimas de silêncio de ter caído, movendo as montanhas e os seus olhos a serem o que se tornariam, sendo que nunca mais foram os mesmos dado que o mundo não arranjou melhor destino do que a fazer sofrer.
E mesmo quando não o fazia, doía e ela dizia como se fosse sempre igual, também nos momentos em que o era. Talvez só as caras fossem diferentes e as palavras sempre iguais. Mas era claro que, do vento, apenas tinha sentido o furacão de precipício e o tornado de paixão que invariavelmente eram como sentia.
Então calou o coração na sua torre de descontentamento onde se envolveu com a solidão enclausurada. Fazendo-o com timidez ao início, até a ânsia de se maltratar se manifestar demasiadas vezes até aquilo que tinha sido um desabafo da angústia que a agoniava tornava-se, tempos depois, em mais um hábito pernicioso a que sua alma se consentia.
Sonhava rebelde. Fechava-se na noite menos escura que encontrasse para se deitar de espírito tão vazio de cheio que estava e adormecia contorcida de dor.
Só que a dor que lhe doía desde sempre, doía calada sem se saber fazer sofrer. Murmurava ela cansada na calada da noite, doendo como mágoa que dói sem desejo, sem força sobre o dorido da tentação.
De espírito longínquo, não quis mais fazer-se existir. Procurou eclipsar-se por entre a lua, no Inverno das emoções perdidas.
Com gelo veio a quietude.
Lembrou-se que nunca teve muita coragem nem nunca foi uma mera heroína
Ela movia-se fechada, em frente, para todos os lugares possíveis sem nunca abraçar um lar para si.
Dormia inquieta e acordava irrequieta. Ficava inquieta, irrequieta no seu sonhar, por vezes acordada.
Saía sempre como chegava, moribunda nas suas certezas.
Nunca tinha dito adeus nem nunca tinha sido vista ir embora.
Era ela quem tinha sonhado em tempos, sem jamais viver nada real, como os sonhos que dormia.
E de repente sim, ela finalmente entendia as dúvidas que tomavam conta de si. Não parou de sonhar. Jamais foi ela mesma, nem foi nada, nem ninguém sem ser quando queria.